sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

ONDE MAIS SINTO A DEUS

Se é verdade
que entre as luzes sapiens
vejo severas sombras,

é fato que
dentre as virgens escuridões
do Cosmo,

onde as retinas
e as senciências humanas
não alcançam,

sinto
a verdadeira divindade
de Deus!

EU, MEUS FANTASMAS E EU

Ouço fantasmagóricos
boatos de que a noite mais longa,
mais fria e mais calma
se aproxima,

ao vento
o cheiro da morte disfarçado
pelos perfumes das rosas
e das damas-da-noite;

uma andorinha
voa proximamente, um canário canta
proximamente, um ano ama e geme fodendo
proximamente,

alheios de que
o resplendor da lua não me brilhará
mais no dia seguinte!

PURITANISMO DISSIMULADO

Mulher,
de mil fases
e de mil e uma máscaras
teatradas,

de mil rosas
e de mil e um espinhos
afiados;

mulher,
que se veste de cheiros e cores
ao corpo sinuoso

e de claridades
néon às belas e ávidas cordas
vocálicas;

é sob as superficiais
dos caminhos e dos desalinhos que costumas
demonstrar suas maiores
desgraças.

ENTROPIA HUMANA

... rumo
ao fim de suas vidas,

entre a enfraquecida
(mas resistente) capacidade de criarem imensidões
e o iminente e inexorável retorno ao frio
caos do apagamento,

buscam ainda
(os sapiens) respirar um pouco de luz,
em meio às próprias e faustas
superfícies.

PORTAS FECHADAS

Em espanto e dor,
aquele sublime e eterno amor de outrora,
que tantas e tantas vezes
nos (per)juramos,

padeceu no último adeus,
juntamente com todas as quimeras que sonhamos
e com todas as esperanças
que engravidamos:

e até hoje,
quem se nos passa vê
[aos chãos do cais abandonado],
sem entenderem por quê,

os caóticos resíduos
des asas quebrados, des cinzas molhadas
e de destroços espalhados
por todo lado.

ENQUANTO NÃO CESSA O CANTO

... sim, aos amplos
adornos e às cruciantes dores desse estranho
e alucinado amor

– com seus desejos aflorados,
com suas esperanças engravidadas,
e com seus sonhos incautos –,

sempre resistindo
aos fortes ventos, às incontinentes chuvas
e às falesiadas erosões ao precário
caminho,

sempre tentando
alterar as vertigens de nossos desvarios
evitar a queda de nossos
voos;

até que (com a morte)
nos reine apenas a verdadeira paz do silêncio
e as insubstantivas, impronominais
e sublimes possibilidades
do apagamento.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

EXTRAVIADOS

... o que nos sobra,
além das espessas e espinhosas
matas fechadas,

quando nos perdemos
em meio a nossa própria floresta:
estranha e obscuramente
volatilizada?

ANGELUS

Não,
não me esqueço de quando
mãe me dizia, toda
sorridente:

sim, filho,
os anjos existem e são seres muito bons,
e são feitos de plena
luz;

e eu, intrigado, sempre
os procurava por entre os néons da cidade,
sem, contudo, jamais os ter
encontrado.

INEVITÁVEL DESTINO III

... de novo eles
(sempre, sempre, sempre
eles):

os semelhantes
e superbíssimos filhos
de Deus,

que vivem
a querer voar cada vez
mais alto,

escondendo algo
(vestidamente) entalado
nos rabos!

INEVITÁVEL DESTINO II

Um menino sonha
puerilmente e vive a dizer que, quando crescer,
vai ser um jogador
de futebol;

uma mulher sonha
acordada e vive a dizer que, um dia, ainda
quer conhecer o grande e eterno
amor de sua vida;

um poeta sonha,
na ponta da esferográfica, coisas
parecidas;

anjos não sonham,
festejam em delírios suas alvíssimas limpidezes,
seguros de não correrem
riscos

[de se perderem
por entre os descaminhos
do mundo];

algum demônio indefeso
tenta fugir de seu tênebro reflexo, abrigando-se
às próprias sombras dolorosamente
inalienáveis:

tudo e todos,
de alguma forma, sonham ou se mexem
(a seus aprazeres ou a seus alívios) pelos caminhos
e descaminhos desta
vida,

em meio
a atuações esplendidamente bem executadas,
a concupiscências febrilmente
ejaculadas

e a conspirações
(por todo lado) escondida e covardemente,
maquinadas.

INEVITÁVEL DESTINO

Um dia,
e isso é um fato (graças a Deus)
realmente inexorável,

ninguém mais
irá sequer se lembrar ou (pior) sequer ter algum
resquício memorial mínimo
de que

[sob o invisível
manto do apagamento]

já existiu,
em faustas, soberbas e dissimuladas atuações,
esse vão e vil
ser.

SER INSUFICIENTE A SI MESMO

... já não
bastam as fantasias
bastardas,

já não
bastam os sonhos idealizados
e depois naufragados,

ja não
bastam as porras
derramadas,

já não
bastasm as apresentações
aos teatros,

nem os muros,
nem as grades mais espessas
bastam mais
a algo:

este
é o ponto-chave, o lugar
de onde o sapiens faz suas escolhas
ruminadas!


ESPERAS

... sempre esperei

pelos voos
dos belos e nobres pássaros,

pelos sonhos
dos anjos sublimados,

pela linda
virgem nunca tocada,

pela quimera que coubesse
em minha casa,

pelos perdões
dos deuses idolatrados,

pelo infinito
que coubesse em minhas pequenas
polegadas:

agora,
com a vela quase se apagando,
espero pelo último trem,
e mais nada!

MISSAS E PROCISSÕES

... conta-me
da missa, da missa
sapiens,

da missa
que supões que eu não
entenda ou não
conheça;

alivias-te,
enquanto ainda és imensidão
em matéria:

do ser,
o cão saiba mais provavelmente
das sombras imanentes

do que
o que ele, em luzes vocálicas,
projeta!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

CADA MOMENTO NOS É URGENTE

Ainda há de nos
haver um tempo mínimo
de paz e de amor,

abaixo
da lua plantada acima
na escuridão;

e nesse tempo,
quero aproveitar o máximo para
pegar em tua mão e te levar
comigo para um belo
sonho,

e lá te araçar, beijar-te,
aspirar o cheiro de teu corpo,
de teu perfume e de tua
perfeita xana

e chegar ao delírio
quantas vezes eu conseguir
sentindo o doce mel que te ti emana
em minha boca e em minha haste,

ao mesmo tempo
em que toco teus seios, em dulcíssimos
pecados, com tesão ora com a boca,
ora com a intensidade
de minha carne

e com a volúpia
e a insaciável fome
de minha negra
alma!

A VIRGINDADE UNIVERSAL NÃO PODE MAIS SER CONTEMPLADA PELO SER

... sim,
foram as sombras,

(com seus receios e medos,
com suas angústias e dores, e com suas ilusões
e esperanças silenciadas)

que me segredaram
sobre a afiada pureza da própria visão
perante o turvo reflexo
aos espelhos

e sobre a dissimulada
condição das luminescêncais que emanam
do que chamamos
de “Ser”.

ROSA NOTURNA

Noturna rosa de outrora,
por que não levaste contigo o cheiro
de teu corpo e de teu perfume
embora?

Borboleta mágica
que dominava até os mitos e os heróis
mais poderosos e que seduzia até
os deuses mais sublimes

deixando-os
bêbados de amor e de desejo
por que ao cão niilista também fez
voar em falsas glórias?

Lilith,
dominadora do averno e de paraísos,
onde frágeis anjos eram feitos
indefesas vítimas;

Ana, linda e pura Ana,
na outra ponta extrema
de sua bipolaridade
maldita,

por que
me ofucaste com a luz que carregavas
às mãos e aos olhos,

e me mataste
com as sombras que trazias
escondidas na bolsa que, pendurada às asas,
carregavas?

FRIAS E DOCES SOMBRAS

Sim,
vou ocupar teu coração,

beijar,
chupar e cavalgar em teu
belo e sensual corpo

e abrir
uma rachadura em tua
limpa alma,

de modo tão intenso
que até a uma flor do deserto
faça tremer,

quando eu a amar
por inteiro e por tempo incalculável
em minhas frias e doces
sombras!

domingo, 7 de janeiro de 2018

O BEIJO

… é deveras algo
maravilhoso e provoca efeitos
avassaladores, mesmo quando não se está
em local apropriado;

eu mesmo,
em mais jovem, quando conhecia
alguma moça e, numa mesa de bar
ou numa discoteca dançando músicas
românticas,

enquanto a beijava
peguei-me com incontidas ereções
inviáveis para o momento, em que o tesão
não devia ser exposto!

BRANCOS INCENDIÁRIOS

… o amor, os afetos,
os desejos confabulados às escondidas
com tons de prazeres e purezas
desmedidas

não são
monopólio dos anjos;
pelo contrário, também cabe
aos vermes e aos cães;

a única diferença
que vejo entre ambos é que os anjos,
quanto ao desejo, são mais promíscuos
e efêmeros!

QUEM DIZIA ME AMAR, ABANDONOU; E UMA FLOR SE ME RENOVOU

... ela apareceu
e me viu ali, perdido e estirado
em um deserto sem
sentido;

e, no início,
eu nem liguei, confesso,
mas, ocupando aos poucos
meus pensamentos.

aquecendo meu coração
e queimando meus sentidos,
ela se tornou como um brilho em meu
exílio,

como uma linda
lua cheia a clarear meus severos
escuros frios!

DESCOLORIMOS A MANHÃ E A TARDE

Quando Ana
e eu andamos juntos,
pegamo-nos nas mãos, abraçamo-nos,
beijamo-nos e nos amamos

em meio
a luzes e a sombras, em calmarias
e incontidas tempestades
e chuvas de fogo;

e tivemos tempo
para mudar as coisas e para
escolhermos nos amar sem as severidades
que nos impomos,

mas por uma década
não conseguimos sair totalmente
nem das chuvas nem
das sombras;

quanto eu tinha quarenta
e cinco, Ana se foi com seus quarenta
e dois anos, sem termos tido mais tempo
para absolutamente nada

porque o tarde demais
já havia nos punido, mesmo antes
de nos chegar a noite!

QUANDO TUDO ISSO ACABAR

... ao fim,
não restará na noite uma só
___ de minhas estrelas,

uma só
de minhas flores,
uma só de minhas amantes,
___ um sé de meus sonhos;

ao fim,
não me restará nem
___ a própria noite,

apagar-me-ei,
e comigo tudo que somei
ou que subtraí do sincero universo
o que verdadeiramente nunca
___ conheci!

sábado, 6 de janeiro de 2018

TEMPO DE VITÓRIA

Amanheceu
e passou.

Entardeceu
e passou.

Anoiteceu
e, em vez de dormirmos
em profunda entrega
ao sono eterno,

escolhemos
romper pela madrugada
nos amando: eu cuidado de ti,
e tu de mim!

ININTERRUPTO CAOS


DEUS E O SER


LOVE HURTS


A ORIGEM


TEMP(L)OS


TRANSCENDÊNCIA

Foi um sem-toque,
foi um sem-cheiro,
___ foi um sem-sentidos,

foi uma extavazação
da ilusão e do delírio que nunca me pôde
___ser entendido.

Era-me novo
e podia construir qualquer gênese
ainda completamente
___ inconspurca;

e assim foi meu primeiro
___ amor:

sem nexos,
sem-rostos, sem-palavras,
sem perniciosidades
___ e sem sexo,

com um pé
(e a asa prestes a se quebrar)
a pisar alguma improvável
___ eternidade.

Meu primeiro
e impossível amor foi
___ assim:

silentíssimo,
algo além, bem além do humano,
o quê, mais tarde, provar-se-ia
nunca poder ter
___ sido.

MASKED ANGELS

Even though our love
be small, desert flower

still
will be greater than that of the angels

that fly
dressed in masks

by the terreiros
humans!

HORA MORTA

Bem viu Pessoa,
há momentos em que severos
fantasmas insones morde-nos
o tempo todo;

alguns querem
nossas almas, outros, esquecidos
de serem esquecidos, querem ainda gozar
com nossas carnes sobre
os ossos;

e então não nos
resta mais que um monstruoso silêncio,
a suarmos em dores
e lamentos!

AINDA CHOVENDO

Eu era chuvas
de fogo contigo, eu bem me lembro,
e isso não era bom pois
queimavamo-nos
ambos;

mas agora
que partiste eternamente, ficou
ainda muito pior:

eu continuo chuva,
mas uma monótona e constante
chuva fria e sombria!

O MAL TAMBÉM TEM UM REFERENCIAL DE ONDE SEJA OLHADO E SENTIDO

Nunca te fiz mal
algum além de te amar, de te beijar
e te entrar dentro de ti, delirantemente,
com minha haste em desejo,
Flor de Inverno;

Ou seja,
nada que se compare ao que
fizeste comigo, após deixares
este mundo pífios

e te dormires
dentro de mim em tanta angústia
e dor que todos andam vendo, na poesia morta,
meus escuros vazamentos!

O SENHOR DAS TEMPESTADES

Confesso:
eu sou um cão, sim, mas
ser cão não está
com nada;

sublimissimamente
bons são os anjos que, com seus
olhos lumes

e com suas
alvíssimas asas habituadas
a voarem em paraísos,

descem à terra
e roubam vítimas para levarem,
escondidamente, a seus escuros quartos
de desejo!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

RASCUNHOS IDÍLICOS

Líquidos diáfanos
se escorrem pelos cernes
úmidos do ser,

de onde se levantam
esplêndidas ilusões e magníficos
castelos,

despercebidos das fragilidades
imanentes das próprias
bases.

A VERDADE DA HORA MORTA

... imaginemos
que ,entre uma e outra fantasia,
entre um e outro desenjo,
entre uma e outra
____________________ trepada;

imaginemos
que nos calores e delírios
das horas e dos leitos, pensemos
silentemente um no
____________________ outro;

Imaginemos
que diante do entusiasmo do mundo
e das magníficas imagens dele,
ainda mantemos inesquecível
aquele nosso secreto
____________________ jardim;

Imaginemos,
por fim, que na hora da morte
prounciemos, em sussurros derradeiros,
o nome um do
___________________ outro:

depois disso tudo,
teremos a certeza absoluta
de nosso amor e da incrível estupidez
que cometemos ao não vivê-lo
__________________ juntos,

curvados
que fomos sob outros céus,
sobre outras ilsusões e sobre
outros arcos
________________ de flores!



BORDEL POÉTICO

Versos coloridos,
rimas preciosas,
poetrix, ecosys, trovas, experimentais
e o escambal,

e tanto que até
embaça as vistas da gente
e deixa uma clara sensação de que
o espaço poético é levado como site
de relacionamento, em vez
de literatura.

Esqueceram
a essência do que seja a poesia
e esqueceram que ela foi o berço
da filosofia:

eu, Thor Menkent,
afirmo que, no que chamam poesia,
sóme permito uma
regra:

não ter
absolutamente nenhum limite,
nenhuma fórmula e absolutamente
nenhuma regra!

CADA DIA PERDIDO É UM DIA A MENOS PARA O AMOR

... não sei muito
sobre o amanhã, não creio
em previsões, em bruxarias
ou em vidências;

mas olha,
minha querida amada,
é melhor aproveitarmos a hora do dia,
porque, seja o que for, a única
certeza que tenho

é de que,
entre o que nos espera lá,
há inexoravelmente o tarde
demais!

QUISERAM SER EXTRA-HUMANOS

Eles se conheceram
sob a lua cheia e branca, o que
mascarou um pouco suas escuridões
particulares e abnômalas;

embriagados
de vinho, de desejo e de amor,
eles se puseram imediatamente
em conjunções em em fantasias das mais
sublimes e abissais:

quando a lua cheia
se inclinou ao fim da noite,
veio o sol e começou um novo
dia,

e só aí
eles perceberam que tudo que
se passou durante a noite em que
estiveram juntos

não passou
de um lindo sonho e que dele
só sobraram restos podres e uma
incrível e tênebra sensação
de vazio!

ESCOLHAS E CONSEQUENCIAS


DESENGANOS


CULPADO


APENAS UM SAPIENS


O EU


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

DUREZA

Ignorância,
arrogância e insipiência
me incomodam,

mas o que
mais me incomoda é quando
escrevo, tipo,

um raio me encendeou,
uma flor do deserto chegou,
uma nuvem apareceu e eu a amei,

tenho saudade de lilith,
eu gostava de falar com letrinhas
ou outro substantivo comum ao qual faço
um próprio por derivação
imprópria,

alguém,
geralmente alguma beldade,
chegar e me perguntar sobre o que
se trata, como que a desentender se de algum
homem ou de alguma mulher!

NÃO VOS SUICIDEIS COM UM NIILISTA

Eu sou tal
como a vossa sombra,

se movêreis
uma mão contra mim,

estareis,
inevitável e inexoravelmente,

movendo-a
também contra vós
mesmos!

EU, ELA E O MAR

Eu olhava de detrás
de uma pedra, ela tirou a roupa,
não estava de biquíni e sim de sutiâ
e de calcinha,

foi andando
devagar até o mar, entrou,
e eu ali meio perto, meio distante
tal que ela não me percebia;

então veio
saindo e deixando as águas do mar
a lamentarem a ausência
de seu gosto:

eu vi,
eu vi, eu vi sim, aquele pacotinho
escurecido sob a calcinha
branca,

e, então,
eu que andava meio descrente
com as coisas, pensei: “É, Deus tem
mesmo que existir para ter inventado
uma coisa maravilhosa
como esta!”

MANGUE ALAGADO

... o tempo corre
escasso, e eu ainda ouço
e sinto a chuva;

e nisso há
algo de inconsistente, de nojento,
de egocêntrico;

sei lá,
mas acho que acabei
me transformando na própria
chuva

que sempre
gostei de ver cair sobre
os pássaros e sapiens
às margens dos
caminhos.

CAMINHOS DO DEGREDO

... neste ano,
ainda não fez sol,

está muito atrasado
e não sei por quê;

acho que
se ele demorar demais
a aparecer ainda,

antes de morrer
vou, em poesias escuras,
afrontá-lo.

NEM FORÇA, NEM SUBLIMIDADE

... uns velhos vinis,
uns vinhos também velhos,
as músicas eram clássicos do arco
da velha,

os paus eram velhos,
e havia até um tio no meio,
e pensava ser forte,
mas a força era tão velha e patética,
e velha também era a palavra
que peidava ao vento;

e o Deus dela
sempre falhava, ou era ela
que com ele falhava.

Sem querer
digladiar com Dylan Thomas,
afundei mais de metro
para aguentar uma estética
assim tão fraca
e esquizofrênica;

então deixei
o sublime concerto,
e fui ver as estrelas e as siriricas
que dançavam um funk, um roque,
e comemoram e se masturbavam,
sob o luar,

a vida sob sua autêntica
forma;

e ela, de repente,
surtou.

E não quero mesmo
confrontar Dylan Thomas, como ele
não sou apenas antropofágico,
mas me alimentei tanto de vermes
como de espinhadas rosas
como ela.

FOI QUASE DELIRANTE E NEGRAMENTE POÉTICO

... ela jogou
ao dados que havia
marcado

(com um instrumento
esporrado,

com uma mensagem
do diabo,

e com uma pureza
esquizofrenica);

mas ela
não percebeu que eu estava
preparado,

para,
qual fosse o resultado,
lhe enfiar tudo no santo
rabo.

IMAGENS QUE ENJOAM

... cheio de flores
iluministas que tentam
se perfumar por
todo lado,

de pianistas que
tentam impor suas melodias
aos ventos e às curvas
das estradas,

de puristas que
se contorcem escondidos
com seus dedos fincados nas
genitálias,

e de poetisas
que se masturbam delirantemente
às madrugadas;

cheio de
tentarem preencher os próprios vazios
com imensidadas que desaguam
em nadas,

de algemas
de ouro castiçadas e de palavras
e preces abençoadas,

dos contornos
burilados pelos que pensam ser
pássaros, mas não passam
de sapiens bastardos;

o mundo
é uma completa e infinita
alucinação estridentemente
enclausurada.

POR ENQUANTO NÃO

... quando
eu for só brisa,

ou nem isso
mais;

não orem por mim,
apenas digam ao mundo,

conforme
seus imundos olhares e conforme
lhes convier,

quem fui
neste mundo de loucos.

NECESSÁRIO CONTROLE

... mas que
mistérios envolvem a paixão,

o desejo e a fantasia
promíscua.

permitindo que,
se não dominados, eles matem

até a um grande
e inequívoco amor?

COMO EVITAR ACIDENTES

... ser mais chão
e menos falsa vastidão,

não há outro
caminho mais seguro

a trilhar.

COLEÇÃO DE DESTROÇOS

... quanto
mais alto o galho,

mais dura e dolorosa
é a queda:

por esta
estrada em que andamos,

à beira
do erro, sempre andamos;

em amores,
desejos, desterros
e enterros,

sempre
quanto mais pensar acertar
estamos!


É PRECISO VOLTAR A ARDER(SE)!

... para
se abrirem novos caminhos,

para
se pavimentarem novos sonhos
e novos céus,

para
voltar a acreditar que
um grande amor
seja possível

(para foder, não,
para foder é fácil, basta ficar
ao nível do chão e liberar a erstrutura
dos sentidos),

é primeiro
preciso curar-se das profundas
feridas que não se
cicatrizam!

TUDO PARADO: PARADO E MORTO!

... tento
fechar todos os espaços
e todas as frinchas
___ das janelas,

na esperança
de conseguir, enfim, descansar
na escuridão
___ fria;

mas nem
as sombras vazias
trazem-me algum alento
___ possível,

da dor
que sinto por aquela já apagada
e única luz que em minha
___ casa esteve um dia!

ASSUSTADORAMENTE ABRASADOR!

... teu olhar
é uma lâmina de sol,

a cortar
desertos, mares e paraísos
onde brincas, danças
e transas

sob
céus azuis, madrugadas
escuras e luares
crepusculares;

teu olhar
está entre o riso e o pranto
dos que te olham

e entre
o frio e o quentume daqueles
que de amam;

sim,
teu olhar vai além das curvas,
além dos rios, além das
camas,

teu olhar
é, de sol, uma lamina!

ECOS QUE NÃO CESSAM

... o vento
ainda geme, e as luzes ainda
piscam e festejam, mas
___ é lá for a;

o deserto
que me queima é constante,
___ é cotidiano,

lugar
onde não chove senão
angútia, dor e sangue em poemas
___ de mim;

e não há vento
ou brisa que nele me alivia
___ um pouco

e nenhuma
minima altura que eu alcance
para minimizer meu
___ sufocos;

este é o lugar
em que me sucumbro, e não vêem?
isso é o que sobrou para
___ e de mim!

BEBEMOS DEMAIS!

O amor é como líquido,
tal qual a preferida bebida
de Baco,

todos
bebem e dizem amar
muito;

mas, na realidade,
estão, durante o tempo todo,
é completamente
bêbados!

THOR SHAITAM E LILITH

Eles se encontraram um dia
e, mesmo cada um se sabendo
escuro,

pensaram
poder se amar como
dois deuses ou como dois fortes
e iluminados:

subestimaram
a si mesmos e, juntos, transformaram-se
no mais completo e mortal
caos!

QUANDO CHORARES

Quando chorares,
e eu não gosto de te ver chorar,
eu me sinto muito sujo, baixo e triste
ao te ver chorar por causa
do que sou ou do que
eu tenha dito;

e, então,
quando chorares, descansa
um pouco de meu linho trevoso,
mesmo que, para isso,

tenhas de passear
nas amarelas asas de canário
ou nos alvos dorsos de anjos em voos
de luzes e de fogos!

AMAR OU NÃO AMAR?

Pela última vez,
já que o deserto meu não passa,
já que as chuvas minhas não cessam,
já que meus destroços e vazios,
cada vez mais, acumulam-se;

e já que não podemos
saber se mais sofrer é amar ou não amar,
não achas que devias colher anjos
em vez de acolher um cão
perdido no vácuo
de si mesmo?

VERDADES RASGADAS COM PSEUDOVERDADES SAPIENS

A verdade virgem
do Cosmo, uma vez surgida em seu seio,
a abnormidade humana,

jamais,
enquanto esta existir, poderá
novamente estar limpa
e intocada!

O INFERNO

Conheço o deserto,
conheço a angústia, conheço a dor
da parturiente;

conheço e senti
a sentença de morte, conheço o medo,
conheço a fraqueza quando ela
se nos toma por inteiro;

conheço o que dizem
ser amor, conheço as máscaras do teatros,
conheço o desejos, conheço os esfregaços
das genitálias, acompanhados
de excelentíssimas palavras
voláteis;

conheço a soberbia
dos homens em todos os cargos e afazeres,
da medicina à filosofia e à política
e ao celibatismo;

conheço a guerra
que muitas vezes fazem em nome de Deus
e que dizimam milhões, e comemoram a matança
como festas de São João:

não conheci o paraíso,
mas conheço o inferno e digo que
ele é aqui!

PARA AMAR MESMO, CONVÉM SER CEGO E SURDO

Para amar
de verdade falar é o que
menos vale,

é preciso escutar
e compreender o que o ser amado
sente e nos claros
e nos escuros,

o que ele pensa
sem revelar a ninguém
devido ao conteúdo talvez meio
obsceno ou obscuro,

assim como é preciso
olvidar tudo aquilo que, de alguma forma,
não se deveria, em função de colocar
os dois amantes a caminho
de uma morte violena
e fria!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O SER É PIOR QUE O INFERNO DE DANTE!

Sigo sendo
aqui o símbolo das sombras
e dos falsos reflexos das retinas
sapiens,

alguns até
me denominam cão do diabo
ou entidade da destruição filosófica
do homem:

e eu aceito
tudo o que têm dito de mim,
e já há muito tempo, pois eu realmente
sinto que tenho sido o averno
ensombrecido

que, em si,
carregam sempre escondido!

INAFIANÇÁVEL

É preciso
evitar as lâminas luminosas
das palavras,

é preciso
buscar a sincera fluidez
das águas,

é preciso
ser responsável e mestre, com escolhas
e consequências, de nossa
própria alma,

é preciso
tentar ser com os demais daseins
como o sol é com as demais
estrelas;

é preciso, enfim,
acender-se e voar com as próprias
asas que imaginamos ter, sem que firamos,
com pecados e raivas, as demais
faustas asas!

ARIDEZ

Ao deserto,
areias, espinhos e cactos
por todos os lados;

vez em quando,
à noite, ainda se arrisca a vir
algum anjo estrangeiro,

vestindo-se
âmbar, incenso e esqualidez
beleza.

Convir-me-ia
que eu recusasse a luz de suas velas
e o perfume de suas asas,

pois, como eu,
todos os desérticos, e até os mais
rebeldes e sombrios dos seres,

sabem que
com anjos assim não se brinca:
costuma ser os piores,

capazes até
de nos tomarem a solitária e sublime
companhia das areias!

DEPOIS DA INUNDAÇÃO

Depois da inundação
das imagens e dos devaneios

que os puristas semearam
por todo lado,

com seus entenebrecidos
e avessos egos;

certamente, ter-me-ia afogado
nessa imunda lama,

se ela
– a resistente nuvem –

não tivesse me estendido,
generosamente,

a última rama.

SOBRAS

Bem,
vejamos o que resta
de teus anjos, mitos e lendas
que contaste outrora
aqui:

“estilhaços de nadas”.

Bem,
agora vejamos o que resta
de teus anjos, mitos e lendas
aí, à tua demente mente
e seco certe:

“nada diferente
do que eu sempre te disse

que restaria”.

ENTENDA QUEM PUDER

Quando a luz
refletida em nossas retinas
transmite dúvidas ou até mesmo
duas respostas

ao que se pensa,
sente ou se diz à estrada,

há uma senciente
rebelião no Universo, que pode
ser comparada à ideia de abundância
de água em um aridíssimo

deserto!

O ORVALHO DO AMOR

Antes de dizermos
que amamos alguém, precisamos
saber

se somos capazes
de, às vezes, engolir pedras
e sombras

para podermos
poupá-la e permitir que ela
sobreviva um pouco mais, em oniria,
no meio deste mundo tão sombrio

e infame!

PENSEI, LOGO ERREI!

Pensei
que todos os relâmpagos e que
todas as tempestades de amor tivessem
ficado para trás;

pensei que
podia, enfim, ter um sonho
comungado de bem querer, de fantasias
e de desejo em paz:

ledo engano deste
humano, no pouco que retirou a máscara
com que afogava suas dores
e angústias

e condenava
tudo ao mesmo ponto de origem
e à real condição agora imperceptível
ao sapiens: o nada!



DEVIA HAVER UMA HORA DE SER FELIZ

De que vale
um amor, familiar ou de uma beldade,

se,
quando mais precisamos,
nos piores momentos de nossas vidas,
ele nos abraças os vazios

com chuva de fogo
e com pesadíssimas pedras

frias?

INEXORÁVEIS HERANÇAS

Quando partimos,
deixamos sempre dois espaços
de lembranças para trás, nas mentes
e nos corações

daqueles
que outrora nos acompanharam
e disseram nos amar?

Um branco

e um demasiado negro!

UM DIA NÃO MUITO DISTANTE

Um dia não vão mais me achar
e não terão onde mais mirar nada
além de suas paravras voláteis em flocos
de luzes ou sombras;

um dia não irei mais sonhar,
esvaziar-se-á o meu mare não restará
dele sequer alguma brisa
de esperança;

sim,
um dia, não muito distante,
todos os meus desejos, todos os meus segredos
e todas as minhas lucidezes
e insânias

estarão comigo
enterrados em algum desconhecido
e vazio lugar!

O GRANDE MAR TEU

Um dia serás
cingido, ó grande Mar,
com o escarro de meus laivos
líquidos póstumos,

quando não
houver mais hóspedes náufragos
às minhas planícies, nem pássaros feridos
a habitarem minhas matas
sombrias.

Ao chegar desse tempo
– de passagem ao frio apagamento –
haverei de deixar tudo, ó Mar dos mitos,
das lendas e das amorosas
contendas,

para ver em tua impetuosa
imensidade, os destroços dos corpos,
corações e almas, que lhe
foram naufragados.

UM POEMA ANTIGO III

Dizes que não te amo,
que não te quero e que não ligo
para quase para nada
que dizes a mim;

e, de fato,
talvez eu não saiba amar
cá deste meu angustiante deserto interno,
de onde te imagino

(em poesias
escritas às secas areias do cerne)

tão bela e esplêndida
como um feixe de helianto azul
fugido casuisticamente
do destino,

a atravessar-me
[cortantemente] o perfumado silêncio
das solitárias e tristes
noites.

A PAZ É TAMBÉM SEMPRE UMA ESCOLHA

Quando se força
(dos amantes em recorrentes chuvas)
a paz à sublime morada
do silêncio,

acabam-se
as fábulas máculas das frívolas paixões
e cessam-se as essências inventadas
das exíguas ilusões:

apenas flores murchas
e algumas dolorosas e angustiantes
reminiscências
submissas

restam suspensas,
entre a serenidade das longínquas estrelas
e a proximidade da cova
ao chão.

UM POEMA DO PASSADO II

À estranha
e senciente mistura que
me deste,

meu céu reagiu
fortemente: foi do azul vitral
ao entenebrecido
das nuvens:

e findou-se,
por fim, em violentíssimas
chuvas.

UM POEMA DO PASSADO

Sinto
o olhar que silentemente
me olha:

ele também olha
a lua, as estrelas e (dos outros)
as sublimes e fantásticas
loucuras;

ele me olha,
matando-me a cada vez que atravessa
(refletindo-me) ilusórias
avenidas e ruas.

EU CREIO

Pode até ser que houvesse
(realmente) aquele grande amor,
que nos regozijávamos em leitos quentes
e em sempiternidades
brancas;

mas houve-nos também
uma ébria, amarga e fatal escolha:
a de nos fazer (em pleno verão)
um sombrio e mortal
in(f)verno.

SERÁ POSSÍVEL AMAR DE VERDADE?

... ou tudo não
passa de um autoamar-se disfarçado?

... porque,
para se amar real
e plenamente,

seria preciso
suportar (amando-se
ainda mais)

a angustiante dor
que há às inevitáveis dobras
dos naufrágios!

FÚTEIS CRIAÇÕES HUMANAS

Fúteis criações humanas,
digo que morrereis todas, lentamente,


ao mesmo passo com que vossos
promotores tonitruantes
se dirigem incautos,


e cada vez mais soberbos e imponentes,
rumo ao despercebido e frio
apagamento.

THE END

... mas
que droga!

Que merda
de rachadura!

Que desgraça
a negritude que se
aproxima!

O acaso
acertou o cão
de jeito,

de modo
que ele não tem forças
nem tempo

para dar
mais nem um
tropeço!

O CAOS É O FUNDO DE TUDO

... nas sombras
absolutas, qualquer faísca
e luz, baby;

e eu sei
onde tudo acontece,

e, por isso,
garanto que a luz,

do mesmo modo,

sem a excuridão
é nada!

INCIDENTE NO RIO

... acontece
que houve um mal entendido
no curso do rio,

que não
mais pode ser corrigido:

enquanto
o mundo olha e se
masturba,

um anjo
e um cão não podem navegar
no mesmo barco
juntos,

senão
é fato, é certo que
afundam!

REALMENTE EU NÃO SEI AMAR!

O amor deveria
ser fundamentado em pelo menos
um mínimo de realidade

e, claro,
de carestia de oxigêncio,
de sombras e chuvas espalhadas
e, com dor de parturientes,
suportadas:

o amor que
se exige haver somente
onde o sol nasce é, por consciente
natureza sapiens,
falso!

DASEIN X DASEIN

Não era só Ana.
eu também e todos vós que
me ledes e os que não
me leem;

todos os daseins,
para amarem, relacionarem-se seja
da forma que escolherem se torna um potencial
inimgo,

tendo-se em vista
que todos, consciente ou inconscientemente,
carregam venenos que injeta pensando
ser a medida certa para não matar
o amante ou o amigo!

EU AFIRMO. A ID É A IRMÃ GÊMEA DA VAIDADE E, EMBORA DELICIOSA, PODE TER CONSEQUÊNCIAS DEVASTADORAS

... logicamente
que falo da id em todos os aspectos,
incluindo o desejo por sexo, por poder,
por status social, por querer ser o melhor
no que faz, etecetera!

Thor Menkent

Meu corpo
tem uma consciência diferente
da minha,

meu corpo exige
comida, água e sexo todo dia,

minha mente pede
poesia, filosofia e sonhos todo dia:

neste cenário de guerra
intrínseca, toda luz que se me apareceu
demonstrou-se insuficiente

para me posicionar
melhor quanto a minha inalienáveis escolhas
e suas respectivas consequências
na existencial ponte,

sobretudo
em dias sem a incidência do sol!



QUERES CAIR? SÊ UM AMANTE CIBERNÉTICO!

Ao computador,
às vezes pensamos poder
ter a sublimidade dos deuses,

o poder dos heróis
e para amar, acender as estrelas
para iluminarem nossas noites de bem quereres,
de companhia mútua e de sexo
vadio:

é, no paradoxo do que,
inconscientemente nos achamos, que
mais nos demonstramos
abnormais humanos!

ANDARILHO DAS AREIAS

Com minhas asas
pousado e vazio em minha ilha
desértica,

tentaram dar-me
algum alento, algum sentido
e alguma esperança:

foi um erro
celestial cometido por um anjo
incauto,

que caiu nos mesmos
caminhos de descontrole, de chuvas
de fogo e de lágrimas
incontidas,

advindas
das dores contidas na alma
do moribundo e decrépito andarinho
das areias!

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

PÁSSAROS AZUIS



Voam soberbamente
a colorirem os céus com suas penugens
travestidas,

com seus cantos
hipnotizadores como que se saíssem
de alguma boca cristalina,

com seus rodopior
misturando-se ao azul do céu
e ao branco das nuvens como numa
dança rítmica e perfeita
de cores,

fazem a quem os vê
sorrir, sonhar, amar e, muitas vezes,
na ardência do momento,
gozar;

sempre incautos,
porém, de que, abaixo, bem abaixo,
ao chão seco e ao pó nele contigo, estão
os menos afortunados cães
e vermes a chorarem!

INCONTROLAVELMENTE A CAMINHO DO ABISMO



Foi mais que amor,
foi algo que não se podia
entender;

e, em não se entendendo,
não foram só chuvas de fogo,
não foram só dores
e prantos:

ultrapassamos
a fronteira final de todos os sentimentos
e de todas as insânias e fizemos
com que a morte fosse
nosso pior algoz!

MELANCOLIA E DEVANEIO



Nostalgia.
Angústia e dor me dominam.

A carne sobreviveu
ao pior dos ataques, mas o coração
se espatifou e a alma se empalideceu
com sua perda:

ano novo,
primeiro dia, e todos festejam,
enquanto eu, só cinzas e tristezas
neste momento,

tornei-me
um completo estranho, a transpirar
a solidão de um morto, entre
os que ainda vivem!



QUANDO A INSENCIÊNCIA RETORNAR



Cinzenta manhã
do primeriro dia do ano,

tu aguças
meu olfato e atiças meu desejos
pelas eternas sombras
da paz;

todos as temem
de detrás de seus humanos vitrais,
porque não a compreendem em sua essência
não-sapiens,

mas eu anseio
um não-ser, que só pode me pertender
depois que definitivamente
me deitar em seus braços!

NOVOS E ÚLTIMOS TEMPOS



És detentora
de meu último sonho,
de minha última esperança
de minha última fagulha
ou chama;

és tu a responsável
por eu ter deixado um pouco
o deserto e as sombras e ter novamente
ousado a inflar minhas
asas inválidas;

sim, és tu
quem me ajudou a enfrentar
meu mais severos e pesados fantasmas
e me fez olhar para outra coisa
que não só meu abissal
passado!

QUANDO NÃO SE SOBRA ABSOLUTAMENTE NADA!



De que vale
o perdão a quem se queimou
e há muito já se tornou
pó e cinzas?

De quem seja o erro
ou o pecado de um lindo sonho
sob um falso sol, inventado
mutuamente?

De que vale
o substrado restado do engando
ou das mentiras contadas, se cada um dos dois
manteve para si, secretamente,
milhares de outros sonhos
igualmente ilustrados?

O PATO FEIO



Posso ser mais
feio do que chute no saco
e mais sem graça e fedorento
do que cinza molhadas,

mas já
se arrependeram comigo,
depois de me mantarei catar mamonas,
por um motivo relativamente
simples;

uma beldade
poder até soltar sua periquita,
uma vez que ela sempre a pode ter de volta
depois de algumas noitadas
e de algumas trepadas,

mas não deve soltar um passarinho
do qual goste ou ao qual imagina amar,
pois ele pode nunca mais voltar
por esta preso em outra
gaiola!