domingo, 31 de dezembro de 2017

EU, INIMIGO MEU



Eu e meu boné
sempre posto à cabeça calva:
fosse ele superficial juízo,
estaria salvo;

eu e minhas caixas de imagens
empilhadas na memória fragmentada e cansada:
tivesse ouvido minha mãe, decerto
não haveria tanto lixo
em minha casa;

eu e minhas chuvas incontidas,
e meus lestes derramados, e meus juízos dissimulados:
fosse como os puristas, poderia ter
alguma chance nos constantes
naufrágios;

sim, eu e minha indomável
fluorescência avessa, faminta e sedenta,
por sencientes combustões coronárias que sempre
– e inexoravelmente – deságuam
em vazios e nada.


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