sábado, 12 de agosto de 2017

O MITO E A SÍMIA



Houve um tempo,
entre ratos e vermes, em que os ares
se me carregaramde pensamentos 
fúteis,

espraiados 
em palavras voláteis e em gestos rasteiros;
aos chãos 

iam-se caindo, e se amontoando,
– enquanto  se desfolhavam as máscaras  postas –,
os destroços de toda
encenação.

Ao longe,
os deuses desdenhavam
assistindo a uma particular
e estranha cena:

uma lenda
estava a andar
com uma pretensiosa
símia;

era como
se a habitante das cavernas
se esticasse toda
para amar e para debater
com o ídolo que
criara.

Num incauto descuido
revelou-se, sob o alvo véu da macaca,
a palidez moribunda
de uma doente.

Deveria, sim,
ter demonstrado o mito
alguma compaixão pela pobre
coitada,

mas optou 
por arrasar o solo infértil
daquela insanável
mente,

que 
se pensava santae inconspurca,
com seus ominosos dejetos
rupestres. 

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